Mulheres na ciência: a história de Marie-Sophie Germain

Thalyta Bertotti

Monsieur Antoine-August Le Blanc, ou será Marie-Sophie Germain? Marie nasceu no dia 1 de abril, em 1776, na França. Filha de burgueses, seu pai era um grande comerciante de seda. Essa mulher, cheia de audácia e anelo, viveu em um período que, infelizmente, não permitia que toda sua potência pudesse ser expressada. Por conta da leitura, sua vida tomou um rumo promissor.

Deixo o aviso: se não quer que sua filha de treze anos se interesse por matemática, não lhe deixe sozinha na biblioteca lendo sobre a vida de Arquimedes.

A fascinação dela pelos números gerou em seus pais o sentimento de receio. Assim, eles tentavam impedi-la de virar a noite estudando, escondendo suas velas para que não pudesse ler Newton e Euler antes de dormir. Embora seus pais não vissem utilidade na matemática e, sabendo dos limites impostos à mulher na época, é provável que tenham sustentado Germain durante sua vida inteira, já que não existem relatos de que ela tenha trabalhado ou se casado. Germain aspirava entrar na École Polytechnique, um grande centro acadêmico em termos de Ciência e Tecnologia, porém não era permitido que mulheres frequentassem os cursos — de modo algum isso a impediu. Ela descobriu que um dos alunos tinha saído de Paris, e por algum motivo a École não ficou sabendo e então continuava a imprimir as lições e enviá-las. Assim, Germain conseguiu se passar pelo referido aluno, chamado Antoine-August Le Blanc, interceptando as lições e enviando as resoluções toda semana, em nome de M. Le Blanc.

As lições que Germain resolvia eram referentes as aulas de Joseph-Louis Lagrange, um matemático italiano renomado que lecionava disciplinas avançadas. Lagrange percebeu uma súbita mudança nos resultados de Le Blanc. Como era possível tamanha evolução? Logo, pediu para o aluno que se apresentasse, pois gostaria de conhecê-lo. Dessa forma, Germain não hesitou e apresentou-se, revelando sua verdadeira identidade. Ao contrário do que poderia se pensar, foi muito bem recebida por Lagrange, que a incentivou fortemente a continuar a estudar matemática, tornando-se seu orientador e amigo. Entretanto, ainda usava o pseudônimo Le Blanc, para manter contato com outros cientistas. Naquele tempo, não se esperava que uma mulher tivesse habilidade em matemática, então ela tinha medo de ser ignorada se soubessem que Le Blanc, na verdade, era Marie.

Escreveu para grandes nomes da época e contribuiu muito em suas obras. Dentre seus contatos, destacam-se Adrien-Marie Legendre, um matemático francês, e Carl Friedrich Gauss, matemático, astrônomo e físico alemão. Na obra de Legendre, suas contribuições foram anexadas pelo autor na segunda edição de “Essai sur le Théorie des Nombres”. Com Gauss, trocou muitas cartas, discutindo sobre a obra “Disquisitiones Arithmeticae”, demonstrou grande compreensão de seu livro e o impressionou com suas ideias sobre a teoria dos números. Também produziu notáveis resultados sobre o “Último Teorema de Fermat”. Um de seus grandes trabalhos, sobre Superfícies Elásticas, foi o que lhe garantiu o prêmio em 1816 da Academia Francesa de Ciência. Suas contribuições também foram importantes para uma grandiosa obra de engenharia, a Torre Eiffel – no entanto seu nome não aparece entre os engenheiros e cientistas envolvidos em seu desenvolvimento. Gauss indicou um dos trabalhos de Germain para a universidade de Göttingen na Alemanha para ser reconhecido como tese de doutorado, e foi. No entanto, Marie-Sophie Germain faleceu de câncer de mama, em 27 de junho de 1831, antes mesmo que pudesse receber essa honra. Em seu atestado de óbito, não foi descrita como cientista, muito menos matemática, mas como arrendatária.

Referências: http://www.mathunion.org/fileadmin/CDC/cdc-uploads/CVgrantsIndividual/mulheres.matematica.maio..13.pdf 

http://ecalculo.if.usp.br/historia/marie_sophie.htm

http://www.somatematica.com.br/biograf/sophie.php

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